Bombeiros retomam as buscas em Brumadinho, após 5 meses de suspensão dos trabalhos; 11 vítimas seguem desaparecidas

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Por Ana Tereza Almeida, G1 Minas — Após mais de cinco meses, o Corpo de Bombeiros retoma, nesta quinta-feira (27), as buscas pelas vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Elas foram suspensas no dia 21 de março, por causa da pandemia do novo coronavírus.

O rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão da Vale deixou 259 pessoas mortas e 11 continuam desaparecidas.

No dia 25 de julho, quando a tragédia completou um ano e meio, parentes pediram a retomada dos trabalhos. Quando o anúncio da retomada foi feito, em 10 de agosto, eles comemoraram, mas se disseram surpreendidos por terem recebido a notícia pela imprensa.

Interrupção foi necessária, diz coronel

Após várias tratativas com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e demais órgãos envolvidos, os bombeiros tiveram aprovado o protocolo que regulamenta a retomada das atividades, resguardando práticas de proteção ao enfrentamento da Covid-19.

Um efetivo de aproximadamente 60 militares vai trabalhar no perímetro da tragédia, que foi devidamente preservado, segundo o Corpo de Bombeiros.

“A interrupção foi necessária pois o mundo enfrentava algo totalmente desconhecido e o momento exigia uma pausa, pelo bem de nossos bombeiros militares, funcionários da mineradora, operadores de máquinas e terceirizados que conviviam em ambiente comum e propenso a contaminação. A operação reúne indivíduos de diferentes regiões do estado, por tudo isso, fez-se necessário agir com senso de responsabilidade e prudência para evitar que a pandemia ganhasse terreno”, disse o coronel dos Bombeiros, Alexandre Gomes Rodrigues, em entrevista ao G1.
Para Rodrigues, a dificuldade do trabalho nesta retomada é porque o terreno possui alguns cursos de rios, córregos, e ribeirões, que deixam o local muito molhado e, consequentemente, compactado. “Isso reduz a visualização da parte interna dos rejeitos, o que atrapalha os trabalhos, além da grande dificuldade de deslocamento dos militares durante a busca”.

Familiares de vítimas lutaram pela retomada

Entre os 11 desaparecidos está Lecilda de Oliveira, de 49 anos. Ela deixou dois filhos, um de 21 e outro de 26 anos. Era funcionária da Vale havia 30 anos. A irmã de Lecilda, Natália Oliveira, que faz parte da Associação dos Familiares das Vítimas de Brumadinho (Avabrum), conta que lutou para que as buscas fossem retomadas.

“Fomos duas vezes conversar com o governador, estamos na expectativa que agora os trabalhos serão feitos até varrer toda a área ou encontrar as 11 joias. Até o momento, procuraram em um terço da área. É preciso alertar que não há ninguém desaparecido. Eles estão lá. Queremos enterrar os nossos familiares para então a gente poder descansar”, disse Natália.

Principais recomendações do protocolo

O protocolo para o trabalho dos bombeiros em Brumadinho durante a pandemia, elaborado em conformidade com o programa Minas Consciente, prevê uma série de medidas que deverão ser rigorosamente observadas por todos os militares. Dentre as recomendações, destacam-se as seguintes práticas de proteção:

Os militares que se enquadram nos grupos de risco não deverão ser escalados. A saber: idade igual ou superior a 60 anos; cardiopatias graves ou descompensados (insuficiência cardíaca, cardiopatia isquêmica); pneumopatias graves ou descompensados (asma moderada/grave, DPOC); doenças renais crônicas em estágio avançado (graus 3, 4 e 5);
diabetes mellitus, conforme juízo clínico; doenças cromossômicas com estado de fragilidade imunológica; gestação e puerpério; pessoas com deficiências e cognitivas físicas; estados de imunocomprometimento, devido ao uso de medicamentos ou doenças e doenças neurológicas;

Se o militar apresentar qualquer sinal ou sintoma de resfriado ou gripe, ele deverá informar ao seu chefe direto e procurar o serviço de saúde imediatamente;
Obrigatoriedade do uso de máscara cobrindo nariz e boca e óculos de proteção durante todo o período do transporte, inclusive dentro do veículo;
Deverá ser verificada a temperatura de cada militar, diariamente, antes do embarque ou empenho matinal e ao término do empenho. Se for verificado febre, deverá ser encaminhado ao médico para avaliação;
Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel a 70% com periodicidade mínima de 2 horas, ou a qualquer momento dependendo da atividade realizada;
Utilizar os equipamentos de proteção individual disponibilizados, da forma correta;
Higienizar os equipamentos com álcool a 70% ou conforme orientação do fabricante.

Saúde

O militar deverá ser submetido a exame médico pericial em sua unidade antes do embarque para Brumadinho, só podendo ser escalado após estar apto;
Solicitar exames para avaliação de metais pesados antes e após o empenho, conforme protocolo específico. Entregar as duas guias de exames de metais (antes e após empenho);
A coleta de sangue e urina relacionada aos demais exames de controle de saúde da operação está suspensa na Base Bravo como medida para diminuir fluxo de pessoas no local.

Durante o empenho

Todos os militares passarão por medição de temperatura diariamente, sendo considerado suspeito o caso com temperatura superior a 37,8ºC;
Caso apresente febre e/ou sintomas respiratórios, tosse, congestão nasal, dificuldade para respirar, falta de ar, dor de garganta, dores no corpo, dor de cabeça, deverá comunicar ao chefe da frente/direto e solicitar avaliação médica no Posto de Saúde Avançado (PSA).
Em caso de suspeita de contaminação definido pelo médico do Posto de Saúde Avançado (PSA), seguir o protocolo de contingência de saúde.

Após o empenho

Deverá ser mantido o isolamento durante o período de folga (4 dias), se possível, inclusive de familiares próximos;
Neste período, deverá observar o surgimento de febre ou sintomas respiratórios e fazer contato com o NAIS/SAS/Consultório médico da Unidade.

Transporte

Para os deslocamentos das unidades até Brumadinho e no retorno ou, nos deslocamentos na área de Operação, fica limitada a ocupação dos veículos a 50% do número de assentos disponíveis;
Nos veículos para 5 passageiros fica permitido a ocupação dos 2 assentos dianteiros e 1 ocupante no assento traseiro;
Deverá ser disponibilizado frasco com álcool a 70% em todos os veículos utilizados para transporte da tropa, que ficará sob a responsabilidade do motorista;
No caso de viaturas do Corpo de Bombeiros e caminhonetas alugadas, todas deverão ter frasco com álcool a 70% e os tripulantes deverão higienizar as mãos antes do embarque;
Os veículos deverão operar sem o uso do ar condicionado e com vidros abertos. Nos veículos onde não for permitido a abertura das janelas ou em caso de chuva, deverá acionar o sistema de circulação externa de ar;
Antes e após cada deslocamento, os veículos devem ser higienizados com álcool a 70% nas áreas de maior contato;

Alimentação

Intensificar a atenção e o cuidado no cumprimento das boas práticas de manipulação de alimentos de acordo com a legislação em vigor;
Orientar a higienização das mãos e antebraços dos manipuladores de alimentos que deve ser realizada com água, sabonete líquido inodoro e agente antisséptico.
Utilizar EPIs adequados para a atividade exercida. Essa utilização deve ser completa (luvas, touca descartável, máscara, óculos, face shield e avental descartável;
Limitar a presença de 1 colaborador a cada 2,25m² no refeitório, considerando-se um espaço de 1,5m de distância entre eles;
A alimentação deverá ser servida ao militar de forma individual, respeitando a distância mínima de 1,5m;
Fica proibido o serviço de self service, bem como rodízio. Adotar o atendimento com marmitex;
Caso o colaborador apresente febre e/ou sintomas respiratórios, tosse, congestão nasal, dificuldade para respirar, falta de ar, dor de garganta, dores no corpo, dor de cabeça, deve comunicar ao chefe ou responsável e respeitar o período de afastamento do trabalho, até a completa melhora dos sintomas;
Estabelecer fluxos distintos de entrada e saída do ambiente;
Deverá ser organizada uma fila para a entrada, respeitando a distância de 1,5 metro de um militar para o outro, com as devidas demarcações no piso;
A entrada no refeitório só será permitida após a lavagem das mãos com sabonete líquido inodoro e a secagem das mãos com papel toalha, supervisionada por um responsável.
Os militares deverão utilizar máscara para a entrada no ambiente, devendo essa ser retirada apenas no momento das refeições;
Cada militar ocupará 1 mesa com uma cadeira, mantendo a distância de 1,5m de um militar para o outro no refeitório ou 2,25m².
As cadeiras não poderão ser retiradas de seus lugares;
Manter o ambiente de trabalho com ventilação adequada, sempre que possível.

Dormitórios e estadia

Os dormitórios disponíveis para acomodação dos militares deverão ser adaptados para prevenir e reduzir riscos de infecção pela Covid-19;
O distanciamento mínimo entre as camas deverá ser de 2 metros, não devendo utilizar a parte superior dos beliches; as mesmas não devem ser colocadas em corredores e demais áreas de circulação;
Não será permitida a circulação dos militares em outros dormitórios;
Manter os ambientes arejados por ventilação natural (portas e janelas abertas) e providenciar a retirada de tapumes utilizados para fechamento de áreas externas;
O militar ao chegar ao dormitório deverá se dirigir ao lavabo ou toalete mais próximo para higienizar as mãos com água e sabão;
Estabelecer um horário pré-definido para a limpeza e desinfecção dos quartos visando adequação à rotina dos militares;
Os funcionários responsáveis pela limpeza deverão utilizar os equipamentos de proteção apropriados (máscara, luva de borracha, calça comprida, sapato fechado) e manter o distanciamento.

Para o retorno das buscas, segundo a Vale, foram realizadas melhoria de acessos e drenagem de áreas afetadas, com o aval do Corpo de Bombeiros. A Base Bravo, onde ficam os militares, está recebendo ajustes para adequar o espaço à prevenção à Covid-19.

De acordo com a Vale, até o momento, cerca de 1,7 milhão de metros cúbicos de rejeito foram removidos e estão sendo dispostos na cava da Mina Córrego do Feijão, com aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Agência Nacional de Mineração.

Foto: Raquel Freitas/G1.

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