MP suspeita que associação criada por padre Robson usava postos de combustíveis para lavar dinheiro

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Por Vanessa Martins e Gabriel Garcia, G1 GO e TV Anhanguera — Durante investigação de transações da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada pelo padre Robson de Oliveira, o Ministério Público de Goiás suspeita de lavagem de dinheiro que pode ter sido feita por meio de uma rede de postos de combustíveis. A informação foi retirada de documentos do órgão à Justiça aos quais o G1 e a TV Anhanguera tiveram acesso.

Em um desses documentos, o MP argumenta que “há fortíssimos indícios da prática de crimes de apropriação indébita, organização criminosa, e ‘lavagem’ ou ocultação de bens, direitos e valores”.

Também no texto, os promotores indicam que a suspeita existe “tendo em vista o volume de movimentações financeiras atípicas e apontada incompatibilidade entre a natureza das transações com as finalidades da associação religiosa, além dos vínculos entre pessoas jurídicas diversas e os investigados, notadamente, o responsável pela Afipe”.

Por meio de nota, a defesa do padre Robson, que sempre negou as acusações, informou à TV Anhanguera que todas as transações envolvendo a Afipe são legais e feitas “em favor da evangelização”.

A rede de postos Kurujão é citada diversas vezes como uma das empresas que recebeu, de forma indireta, grande quantia da Afipe, e que teria conseguido expandir o número de postos com dinheiro desviado da associação.

Os registros do Ministério Público apontam que a empresa Sul Brasil – dos sócios Ademar Monteiro e Marcos Antônio Alberti – recebeu R$ 18 milhões da Afipe em 2018 e que, no mesmo período, repassou R$ 17,5 milhões ao Autoposto Kurujão.

Por um período, segundo consta nos documentos do MP, Ademar e Marcos também foram sócios da rede de postos.

Douglas Reis é indicado nos documentos como o proprietário dos postos Kurujão e sócio do Autoposto Trindade Eireli, que também é citado nas investigações.

De acordo o MP, consta no extrato detalhado do Autoposto Kurujão que “todas as quantias mais relevantes recebidas são repassadas ao Autoposto Trindade Eireli (Kurujão V)”.

A defesa de Ademar e Marcos informou ao G1, em nota, que “não há nada de ilícito nessas relações”. Advogado dos sócios, Alessandro Silvério explicou que seus clientes venderam uma rede de televisão à Afipe pela qual recebera parte em dinheiro e parte em imóveis.

Segundo o advogado, os dois prospectaram negócios na região para os imóveis que receberiam, tendo aproveitado a oportunidade e comprado 50% do Grupo Kurujão, pago com imóveis que receberam da Afipe (leia a nota na íntegra ao fim da reportagem).

A defesa de Douglas informou à TV Anhanguera que não houve transação imobiliária direta com Afipe, mas sim com Ademar e Marcos. Ainda de acordo com o comunicado, Douglas e o Grupo Kurujão têm contribuído para o esclarecimento dos fatos.

Os investigadores também falaram, em pedidos à Justiça, sobre uma conversa de Douglas com um dos sócios da Sul Brasil, Ademar Monteiro.

Na transcrição da conversa, os investigados falam sobre a possibilidade do primeiro empresário se candidatar à prefeitura de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, onde ficam a Afipe e a Basílica do Divino Pai Eterno, que também era administrada pelo padre Robson.

Também na conversa descrita em uma das peças do Ministério Público, Ademar desencoraja a candidatura de Douglas argumentando que o “MP fica em cima”.

Investigações

O MP começou a apurar suspeitas de irregularidades nas contas da Afipe após o padre Robson ser vítima de extorsão e ter pago os criminosos que ameaçavam divulgar um suposto caso amoroso dele com R$ 2 milhões retirados dos cofres da Associação, que é mantida com dinheiro de doações de fiéis do Brasil inteiro;

Os promotores apuraram que a alguns pagamentos aos autores das extorsões foram feitos em espécie, envolvendo funcionários da Afipe, algumas vezes sem o conhecimento da Polícia Civil, que já estava investigando as ameaças;

Os saques de valores altos e com frequência chamaram a atenção dos investigadores, assim como o grande número de bens de luxo no nome da Associação, cujo objetivo é promover a evangelização e não teria fins lucrativos;

Também de acordo com as apurações do MP, várias negociações de imóveis deixavam a Afipe no prejuízo;

A Operação Vendilhões foi deflagrada no último dia 21 de agosto e cumpriu mandados de busca e apreensão em vários endereços da Afipe e de pessoas ligadas à Associação;

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) segue investigando o material colhido e deve ouvir as pessoas envolvidas para esclarecer se o dinheiro de fiéis estava sendo desviado da Afipe ou não.

Foto: Reprodução/Instagram.

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