EUA: nem uma pandemia impediu que essa senhora de 102 anos votasse

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Por CNN Brasil — Bea Lumpkin tem 102 anos e nunca perdeu uma eleição desde que se tornou apta a votar. Nem a pandemia do novo coronavírus impediu que ela registrasse seu voto no pleito de 2020.

Professora aposentada da rede pública de Chicago, Lumpkin utilizou um traje protetor da cabeça aos pés para entregar, na última semana, sua cédula de votação para a eleição presidencial entre Joe Biden e Donald Trump.

Em sua idade, Bea corre o risco de ficar extremamente doente caso seja infectada pelo coronavírus. Mas ela nunca perdeu uma oportunidade de votar. E clama para que todos os eleitores registrados exerçam seu direito também.

“A razão mais importante para votar nessa eleição é que há muito em jogo, muito mais que qualquer outro voto que já registrei, por conta do grande desafio de manter viva nossa democracia”, disse à CNN.

Se ela votou esse ano, todos registrados também devem, disse. E a professora aposentada sabe melhor que ninguém a importância do voto. Abaixo, a centenária e votante orgulhosa explica porque é tão importante votar em 2020.

Há muito em jogo

Muitas das questões que sensibilizam Bea são especialmente relevantes em 2020: saúde pública, racismo e mudanças climáticas entre eles. Ela acredita em saúde pública para todos estadunidenses; quer ver reformas na polícia para acabar com a brutalidade e o racismo; e alerta para a destruição forjada pelas mudanças climáticas, como incêndios que destruíram a casa do seu filho no estado da Califórnia.

Bea também já se cansou dos efeitos da pandemia e discorda da forma como a ciência tem sido negligenciada pelo presidente Donald Trump e outros membros do governo que lideraram as respostas contra o vírus. Ela, que já deu aulas de biologia, disse que “respeita muito” os avanços que os cientistas realizaram desde o seu nascimento.

“Estou farta desta pandemia, e nunca vamos nos livrar dela a não ser que sigamos a experiência de vários outros países de respeitar as orientações da ciência”, disse. Ela tem saudades das suas visitas diárias à Associação Cristã de Moços, onde se exercitava diariamente. Também sente falta de abraçar seus netos, de encontrar com amigos e de sair de casa de vez em quando.

Seus cabelos também sofreram durante este período de isolamento, diz. “Eu uso meu cabelo curto e está tão comprido agora — está descendo pelas minhas costas”, brincou.

2020 também marca, ela ressalta, o centésimo aniversário da décima nona emenda, que garantiu às mulheres (principalmente brancas, na época) o direito de voto. Feminista de longa data, Bea encoraja mulheres a votar, não só para marcar a data, mas também para proteger seus direitos.

“As mulheres têm tantas razões adicionais para votar nessa eleição. Todos os direitos conquistados nos últimos 100 anos estão em jogo”, disse. “Mas essa luta é muito mais velha que nós — até mais velha que eu.”

Votar por correios foi fácil

Num ano típico, Bea votaria mais cedo, normalmente na ACM em que se exercitava antes da pandemia. Mas neste ano foi mais seguro votar por correio, disse. Sua cédula foi recebida 48 horas após envio, processo que ela acompanhou online. Bea diz que foi uma forma rápida e simples de votar, e que está usando um pin com os dizeres “Eu votei” para celebrar.

Ela sabe que muitos eleitores estão preocupados com a votação por correio por conta da desinformação que rodeia o processo, então encoraja que as pessoas votem o mais cedo possível para evitar aglomerações no dia da eleição. Ao ver filas se formando em Chicago para votação antecipada, diz que está “muito orgulhosa”.

2020 pode ser a eleição mais importante da sua vida

Lumpkin viveu — e votou — em alguns dos períodos mais importantes da história americana: A Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, o movimento dos direitos civis e o fim da segregação, a Guerra do Vietnam, a Guerra Fria, ameaças de terrorismo e crises financeiras, até hoje, com questionamentos de como o país vai se recuperar da pandemia.

“É essencial votar este ano para determinar como o futuro irá se desenvolver”, diz. Lumpkin, uma apoiadora fiel dos sindicatos de trabalho, também fala sobre a distribuição desigual da riqueza no país como razão para votar. “As pessoas não estão recebendo de acordo com o trabalho que fazer. Então, a não ser que você seja ‘dono de tudo’, é do seu interesse que haja mais igualdade.”

Mas, apesar de toda a dor que 2020 trouxe, Bea se mostra esperançosa para o futuro. “Existe a possibilidade de corrigir estes erros se tivermos uma votação forte para os nossos direitos democráticos”, diz.

“Não queremos só restaurar o que tínhamos antes e as pessoas que não votam acham que sua contribuição não faria diferença. Mas, dessa vez, pode fazer toda diferença. Não só inibindo a perda de liberdades que temos… como conquistando outras coisas. As pessoas têm tanta coisa boa para mostrar, só precisam de uma chance.”

Em relação ao resultados das eleições de 2020, ela está, ao mesmo tempo, “morrendo de medo” e “empolgada com a possibilidade de criar um país melhor.”

“Eu quero ver todo mundo que está indo votar se mantendo envolvido no processo — dessa forma conseguiremos avanços para os trabalhadores”, diz.

Bea está especialmente orgulhosa da juventude americana, acreditando que lutarão por um futuro justo. “Tenho muita confiança nos jovens, e sei que vão fazer o necessário”, diz. “Viva a juventude!”

Ela é muito mais velha que estes jovens que começaram a votar agora, mas, aos 102 anos, também fez muito pela democracia este ano.

Foto: Soren Kyale/CTU.

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