Queimadas no Amazonas em 2020 registram maior número da história

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Imagem registrada na terça-feira, dia 27, mostra queimadas na terras do produtor rural José Silva de Souza, em Santo Antônio do Matupi, no sul do Amazonas. — Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

O número de queimadas no Amazonas em 2020 superou o recorde anterior, de 2005, e passou a ser o maior da história. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, até este domingo (11), o estado já registrou 15.700 focos ativos, enquanto em 2005 o acumulado de todo o ano foi de 15.644 casos.

O levantamento de focos ativos de incêndio do Inpe é feito por satélite desde 1998.

Agosto também registrou o maior número de queimadas para um único mês nos últimos 22 anos. Segundo a tabela de Monitoramento dos Focos Ativos por Estado do Inpe, foram 8.030 casos de queimadas em todo o Estado.

Os meses de agosto e setembro costumam ser os mais secos do ano na Região Amazônica e também formam o período em que, segundo especialistas, ocorrem os maiores índices de casos de queimadas e desmatamento.

De janeiro a setembro de 2020, o número parcial de queimadas em todo o Amazonas também foi maior que o total de 2019. — Foto: GloboNews
De janeiro a setembro de 2020, o número parcial de queimadas em todo o Amazonas também foi maior que o total de 2019. — Foto: GloboNews

No comparativo dos anos, atrás de 2020 20052015 registrou o terceiro maior índice da história. Foram 13.419 casos. Em quarto lugar, 2019, com 12.676 focos.

Os municípios de Apuí e Lábrea, no extremo sul do Estado e fronteira com o Mato Grosso, são os mais afetados pelas queimadas nesse ano. Em Apuí, até o final da segunda semana de outubro foram registrados 2.740 focos, enquanto em Lábrea, 2.237. Os dois municípios estão na lista do Inpe como as dez cidades de todo o país mais afetadas pelas chamas.

Amazônia é o bioma mais afetado

Segundo dados do Inpe, a Amazônia é o bioma mais afetado pelas queimadas em 2020. 45,6% dos casos registrados no país durante o ano ocorreram na região. Dados mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o número de focos de queimadas registrados é o maior desde 2010. Naquele ano, foram 102.409 pontos, enquanto em 2020, no mesmo período, 76.030.

Além das queimadas, a Amazônia Legal também registra um aumento no número de desmatamento. A região teve uma área de 964 km² sob alerta em setembro, a segunda maior em cinco anos, segundo um levantamento do G1. No Amazonas, o município de Lábrea, que também registra o segundo maior em número de queimadas em todo o estado durante o ano, já desmatou, em 2020, cerca de 42,06 km².

Queimadas em Apuí, no Sul do Amazonas. — Foto: Orlando Júnior/Divulgação
Queimadas em Apuí, no Sul do Amazonas. — Foto: Orlando Júnior/Divulgação

desmatamento e as queimadas estão relacionados. O fogo é parte da estratégia de “limpeza” do solo que foi desmatado para posteriormente ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado “ciclo de desmatamento da Amazônia”.

Para o geógrafo e ambientalista Carlos Durigan, diretor do Programa WCS-Brasil, organização que preserva a fauna silvestre e lugares naturais em todo o mundo através da ciência, as queimadas são a consolidação das áreas desmatadas em campos agrícolas ou para atividade pecuária.

“O Amazonas é o maior estado do Brasil e nos últimos anos vemos esse aumento expressivo que vem pelo Sul do Estado. Nada mais é que a substituição do modo de vida, do modo de produzir amazônico pelo modo de produzir que vem de outras regiões, como o Sul e o Centro-Oeste. E que tá ligado ao agronegócio, a agricultura e a pecuária extensiva”, explicou.

O especialista também vê com preocupação a expansão dos eixos rodoviários na Região, como a BR-319, no Sul do Estado. Segundo ele, os números de desmatamento e queimada podem aumentar ainda mais se não houver controle por parte dos órgãos competentes.

“Se não houver uma salva-guarda sócio-ambiental por parte das autoridades vamos ver esse cenário de destruição estabelecido no Sul do Amazonas subindo para a Amazônia central, afetando a vida das pessoas que vivem na região do Purus e do Madeira, até Manaus. Estamos perdendo um patrimônio de valor incalculável, como biodiversidade, floresta, serviços ecossistêmicos e qualidade de vida”, ressaltou.

Política nacional

O presidente Jair Bolsonaro durante gravação de discurso para a 75ª Assembleia Geral da ONU — Foto: Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro durante gravação de discurso para a 75ª Assembleia Geral da ONU — Foto: Marcos Corrêa/PR

No dia 30 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro declarou, em um discurso gravado e apresentado na cúpula sobre biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU), que organizações, em parceria com “algumas ONGs”, comandam “crimes ambientais” no Brasil e também no exterior. O presidente não apresentou provas para as afirmações.

Quatro dias antes, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) publicou informações incorretas sobre as queimadas registradas no país em 2020. A mensagem da secretaria dizia que a área queimada em todo o território nacional era a menor dos últimos 18 anos.

A afirmação, entretanto, desconsiderava um dado que aparecia na imagem postada pela própria Secom junto com a mensagem: os números de 2020 se referiam aos oito primeiros meses do ano – janeiro a agosto. Já os dados dos outros anos consideravam os doze meses.

Em agosto, o Ministério do Meio Ambiente chegou a anunciar que as ações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia seriam suspensas. Em nota, na época, o órgão afirmou que suspensão seria motivada por um bloqueio financeiro determinado pela Secretaria de Orçamento Federal em verbas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O vice-presidente Hamilton Mourão contestou a decisão do ministro e afirmou que Salles havia se precipitado ao anunciar a suspensão das operações. Segundo ele, o bloqueio orçamentário de R$ 60,6 milhões do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) — apontado pelo Ministério do Meio Ambiente como motivo para a suspensão das operações — não será efetuado.

Fonte: G1.

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