Celso Fonseca amplia obra com Ronaldo Bastos, sem a magia de antes, em EP com seis músicas inéditas

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Por Mauro Ferreira – Resenha de EP

Título: Mágica

Artistas: Celso Fonseca e Ronaldo Bastos

Edição: Dubas

Cotação: * * 1/2

♪ Apresentada há 35 anos nas vozes de Caetano Veloso e Gal Costa, intérpretes originais da balada pop Sorte (1985), a parceria de Celso Fonseca com Ronaldo Bastos injetou sopro de leveza na música brasileira sem necessariamente ter marcado época ou dividido águas.

A obra dos compositores rendeu trilogia de álbuns iniciada com Sorte (1994), continuada com Paradiso (1997) – disco recriado com convidados, após 14 anos, em projeto fonográfico intitulado Liebe paradiso (2011) – e concluída com Juventude / Slow motion bossa nova (2001), álbum que representou pico de modernidade na parceria da dupla, sobretudo por conta do frescor da música-título Slow motion bossa nova, faixa em inglês de alcance global.

Mágica – EP produzido por Leonel Pereda e lançado na sexta-feira, 4 de dezembro, em edição da gravadora Dubas Música – amplia a parceria de Celso e Ronaldo com seis músicas inéditas. Três são sobras de discos anteriores que permaneciam inéditas há décadas. As outras três são novas e exemplificam o contínuo fluxo de criação dos compositores.

Novas ou antigas, as seis músicas se irmanam no tom cool de Mágica, disco que, contrariando o título, soa sem a magia da trilogia. O EP alinha seis sambas ambientados em clima de bossa nova e conduzidos pelo violão de Celso Fonseca, intérprete do repertório.

Fonseca também toca sutil percussão em Dora – samba meio buliçoso em que o cantor parece querer evocar a interpretação de um samba de Dorival Caymmi (1914 – 2008) por João Gilberto (1931 – 2019) – e em Samba do Lyra.

A despeito de nominar no título Carlos Lyra, compositor fundamental da bossa nova, Samba do Lyra tem letra que cita Rita Lee e que alude em verso à gíria do vocabulário da Jovem Guarda – “É a minha brasa, mora?” – em falta de sintonia musical, mas com conexão com a temática do samba que abre o disco, Erasmo, Rita e Roberto, de letra também destoante do universo da bossa.

Por mais que Rita Lee seja a roqueira mais bossa nova do Brasil, a letra de Bastos não se afina com o tom íntimo do samba, e não precisamente por ser alusiva ao universo pop do rock.

Esse clima íntimo é mantido ao longo do EP Mágica em sambas como Prova dos nove e Não enlouquecer, evidenciando a linearidade de disco cujas seis faixas foram gravadas com a mesma temperatura amena.

O canto cool de Celso Fonseca parece celebrar a todo tempo o legado de João neste EP que culmina com a paisagem carioca do samba Do lado ensolaradoflash poético de ausência amorosa que insiste em nublar a natureza da cidade do Rio de Janeiro (RJ), berço da bossa nova que Celso Fonseca e Ronaldo Bastos revisitam em slow motion, sem o frescor e a magia de tempos e discos idos.

Capa do EP ‘Mágica’, de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos — Foto: Divulgação / Dubas Música

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